A presença de musculatura dupla ou hipertrofia muscular é uma condição inerente aos bovinos. O nome musculatura dupla é uma designação errada, pois não existe duplicação de músculos e sim uma condição que envolve tanto hipertrofia como hiperplasia das fibras musculares. Além disso, a musculatura dupla é uma síndrome associada a factores físicos, fisiológicos e características histológicas que não apenas a hipertrofia muscular.
Algumas características dos animais com musculatura dupla incluem o adelgaçamento dos ossos do traseiro, alta frequência de animais com subdesenvolvimento da genitália externa e aumento da língua em bezerros recém-nascidos. Comparados com bovinos normais, aqueles com musculatura dupla tem um menor peso relativo dos ossos, menos gordura, mais músculos e um alto rendimento de carnes comercializáveis.
Infelizmente a síndrome é associada com problemas para a produção como a redução na fertilidade, distocia, baixa viabilidade do bezerro e aumento da susceptibilidade ao stress. Como existe um aumento na demanda do consumidor por carne magra, o interesse por bovinos de musculatura dupla tem aumentado. Esta síndrome tem sido observada na maioria das raças de bovinos, mas com maior frequência nas raças Belgian Blue, Charolês e Piemontês e é controlada por um gene recessivo, patenteado recentemente com o nome de miostatina. A identificação de animais com dupla musculatura é usualmente baseada na avaliação subjectiva (visual) da característica (grau de hipertrofia muscular), presença de sulcos intermusculares a outras características externas associadas com a síndrome, tal como a inclinação pélvica e o aparente alto ponto de inserção da cauda.
Bovinos de musculatura dupla mostram reduzida fertilidade em relação a bovinos normais. A redução na fertilidade tem sido atribuída a uma série de factores incluindo o pobre comportamento sexual, especialmente em animais jovens.
A dificuldade no parto de vacas de musculatura dupla é um “desbalanço morfológico feto maternal”, levando a uma grande incidência de distocia. Tal problema pode ser explicado pela combinação de dois factores: a dificuldade de nascimento de bezerros de musculatura dupla e a dificuldade de parto das vacas. Com o parto a hipertrofia dos músculos da coxa aumenta a largura do bezerro, especialmente na região dos trocanteres, produzindo muita dificuldade no parto.
A maioria dos estudos indicam que os bovinos de musculatura dupla tem um peso ao nascimento 30% superior do que os bovinos normais. A alta taxa de crescimento permanece até o período de pré-desmama. Entretanto, durante o período de pós-desmama alguns estudos indicaram que a taxa de crescimento de bezerros de musculatura dupla tornou-se inferior que o de bezerros normais, resultando em um menor peso maduro.
É importante ressaltar que a magnitude e direcção das diferenças no crescimento entre bovinos de musculatura dupla e normal estão sujeitos a factores gerais como maneio, habilidade materna da fêmea, sexo dos bezerros e regime nutricional, no qual controla a expressão do potencial de crescimento.
Várias observações indicam um apetite reduzido em bovinos de musculatura dupla, resultando em uma menor ingestão de nutrientes no período de pós-desmama. A hipótese da menor ingestão de alimentos é devido a redução no tamanho do trato digestivo. Assim, os bovinos de musculatura dupla expressam seu maior potencial de crescimento com rações ricas em concentrado e tendem a se adaptar menos facilmente a mudanças na ração e a condição de restrição alimentar.
Os bovinos de musculatura dupla são conhecidos por terem melhor conformação de carcaça que os normais.
A principal razão para a carne dos bovinos de musculatura dupla ser mais macia é esta ter um baixo conteúdo de colagénio (tecido conectivo). A palidez da carne também é uma característica própria dos animais de musculatura dupla. Tal característica possivelmente é devido a alta proporção de fibras brancas ligadas com o baixo conteúdo de mioglobina dos músculos. Em termos das limitações para produção, a superioridade das carcaças dos animais de musculatura dupla tem levado a um aumento na participação deste tipo de animal nos sistemas de produção, além disso, tem aumentado a infusão de genes de musculatura dupla em outros animais. Nas raças Piemontesa e Belgian Blue, a frequência de animais nestas raças que exibem musculatura dupla tem aumentado bastante, e no caso da primeira 57% dos animais são hipertrofiados muscularmente e 42% intermediários.
O acasalamento de machos de musculatura dupla com fêmeas normais, no qual toda a descendência vai para o abate (cruzamento terminal), com o benefício de que a descendência enviada para o abate poderá ser mais eficiente na utilização do alimento, e ter uma carcaça com alto rendimento e qualidade.
Em qualquer outro sistema de cruzamento para produção de carne, deve-se sempre ter o cuidado de descartar as fêmeas originárias do cruzamento com machos de musculatura dupla ou no mínimo descartar aquelas com características fenotípicas para a musculatura dupla.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
NEOSPOROSE
Neospora caninum é um protozoário reconhecido há cerca de uma década e que tem sido implicado como uma das principais causas de aborto em bovinos de várias partes do mundo.
A transmissão vertical (transplacentária) é a principal forma de disseminação de Neospora caninum em rebanhos bovinos, mantendo a infecção por várias gerações. Vacas soropositivas têm 95,2% de probabilidade de transmissão vertical de Neospora caninum. Por isso, em propriedades endémicas, as taxas de soropositivas geralmente são idênticas entre novilhas e vacas.
A infecção horizontal (pós-natal), pela ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos liberados pelos cães também pode ocorrer, sobretudo em casos de surtos de abortos. Vários pesquisadores constataram associação entre soroprevalência (e abortos) dos bovinos e presença de cães na propriedade, comprovando que o convívio cães/bovinos aumenta a prevalência de soropositivos para Neospora caninum em ambas as espécies. Da mesma forma, os cães de propriedades rurais apresentaram maior prevalência de infecção do que os de área urbana. Isto sugere que os cães de área rural podem adquirir a infecção pela ingestão de alimento contaminado de origem bovina, como fetos, membranas fetais e fluidos.
Os estudos epidemiológicos realizados até o momento indicam que a infecção pós-natal tem menor importância, ocorrendo em níveis inferiores aos verificados para a transplacentária.
Bovinos sorologicamente positivos têm maior risco de aborto. Esse aumento do risco pode ser de 7,4 vezes. Além disso, uma vaca soropositiva que aborta, tem 5,7 vezes mais risco de abortar na próxima prenhez.
Em vários estudos realizados na Escócia, Irlanda do Norte e Inglaterra foram constatados maiores soroprevalências entre rebanhos com histórico de aborto variando de 9% a 18%. Na Argentina foram constatados anticorpos anti-Neospora em 64,5% das vacas leiteiras com histórico de aborto.
O uso de cães para o manejo de bovinos de leite e de corte pode, pois, facilitar a contaminação de pastagens e aguadas aumentando a probabilidade de infecção do rebanho.
Nos animais bovinos adultos, o aborto é o único sinal clínico. Ocorre em vacas e novilhas do 3o ao 9o mês de gestação (maioria entre 5 e 6 meses).
O feto pode morrer no útero, ser reabsorvido, mumificado, autolisado, natimorto, nascer vivo mas doente, ou ainda, nascer clinicamente normal, mas cronicamente infectado. Normalmente não ocorre retenção de placenta. São raros os casos de vitelos que nascem infectados e apresentam a forma clínica, com lesões neurológicas, desde leves disfunções até completa paralisia. Os membros anteriores e/ou posteriores podem estar flexionados ou hiperestendidos. Pode ocorrer exoftalmia ou aparência assimétrica dos olhos.
A maioria dos vitelos infectada intra-uterinamente nasce clinicamente normal. Tem, ao nascer, altos títulos de anticorpos anti-Neospora caninum. 80 a 90% dos filhos das vacas soropositivas são congenitamente infectados. Esses animais clinicamente normais e congenitamente infectados são importantes para a manutenção da doença no rebanho.
A frequência de abortos por Neospora caninum pode ser esporádica, constante durante os meses (endémica) ou em surtos (epidémica). Os abortos endémicos geralmente ocorrem em rebanhos cronicamente infectados, entre as vacas soropositivas. São pouco superiores a 5% do rebanho ao ano. Nos surtos, mais de 30% dos animais podem abortar em poucos meses, e ocorre em animais que entram em contato com uma fonte externa de contaminação. Após um surto, os animais ficam cronicamente infectados, passando a ocorrer o chamado aborto endémico. Dessa forma muitas vacas soropositivas podem transmitir o agente para sua progénie, perpetuando a infecção dentro do rebanho.
Existem situações em que é difícil determinar se a alta frequência de abortos é resultado de uma infecção externa recente (surto) ou da reativação de infecções crónicas, latentes, de vacas já infectadas. Essa reativação pode ocorrer devido a fatores imunodepressores, como, por exemplo, a ingestão de micotoxinas presentes em alimentos mal conservados ou a infecção pelo vírus da Diarréia Viral Bovina (BVD).
A transmissão vertical (transplacentária) é a principal forma de disseminação de Neospora caninum em rebanhos bovinos, mantendo a infecção por várias gerações. Vacas soropositivas têm 95,2% de probabilidade de transmissão vertical de Neospora caninum. Por isso, em propriedades endémicas, as taxas de soropositivas geralmente são idênticas entre novilhas e vacas.
A infecção horizontal (pós-natal), pela ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos liberados pelos cães também pode ocorrer, sobretudo em casos de surtos de abortos. Vários pesquisadores constataram associação entre soroprevalência (e abortos) dos bovinos e presença de cães na propriedade, comprovando que o convívio cães/bovinos aumenta a prevalência de soropositivos para Neospora caninum em ambas as espécies. Da mesma forma, os cães de propriedades rurais apresentaram maior prevalência de infecção do que os de área urbana. Isto sugere que os cães de área rural podem adquirir a infecção pela ingestão de alimento contaminado de origem bovina, como fetos, membranas fetais e fluidos.
Os estudos epidemiológicos realizados até o momento indicam que a infecção pós-natal tem menor importância, ocorrendo em níveis inferiores aos verificados para a transplacentária.
Bovinos sorologicamente positivos têm maior risco de aborto. Esse aumento do risco pode ser de 7,4 vezes. Além disso, uma vaca soropositiva que aborta, tem 5,7 vezes mais risco de abortar na próxima prenhez.
Em vários estudos realizados na Escócia, Irlanda do Norte e Inglaterra foram constatados maiores soroprevalências entre rebanhos com histórico de aborto variando de 9% a 18%. Na Argentina foram constatados anticorpos anti-Neospora em 64,5% das vacas leiteiras com histórico de aborto.
O uso de cães para o manejo de bovinos de leite e de corte pode, pois, facilitar a contaminação de pastagens e aguadas aumentando a probabilidade de infecção do rebanho.
Nos animais bovinos adultos, o aborto é o único sinal clínico. Ocorre em vacas e novilhas do 3o ao 9o mês de gestação (maioria entre 5 e 6 meses).
O feto pode morrer no útero, ser reabsorvido, mumificado, autolisado, natimorto, nascer vivo mas doente, ou ainda, nascer clinicamente normal, mas cronicamente infectado. Normalmente não ocorre retenção de placenta. São raros os casos de vitelos que nascem infectados e apresentam a forma clínica, com lesões neurológicas, desde leves disfunções até completa paralisia. Os membros anteriores e/ou posteriores podem estar flexionados ou hiperestendidos. Pode ocorrer exoftalmia ou aparência assimétrica dos olhos.
A maioria dos vitelos infectada intra-uterinamente nasce clinicamente normal. Tem, ao nascer, altos títulos de anticorpos anti-Neospora caninum. 80 a 90% dos filhos das vacas soropositivas são congenitamente infectados. Esses animais clinicamente normais e congenitamente infectados são importantes para a manutenção da doença no rebanho.
A frequência de abortos por Neospora caninum pode ser esporádica, constante durante os meses (endémica) ou em surtos (epidémica). Os abortos endémicos geralmente ocorrem em rebanhos cronicamente infectados, entre as vacas soropositivas. São pouco superiores a 5% do rebanho ao ano. Nos surtos, mais de 30% dos animais podem abortar em poucos meses, e ocorre em animais que entram em contato com uma fonte externa de contaminação. Após um surto, os animais ficam cronicamente infectados, passando a ocorrer o chamado aborto endémico. Dessa forma muitas vacas soropositivas podem transmitir o agente para sua progénie, perpetuando a infecção dentro do rebanho.
Existem situações em que é difícil determinar se a alta frequência de abortos é resultado de uma infecção externa recente (surto) ou da reativação de infecções crónicas, latentes, de vacas já infectadas. Essa reativação pode ocorrer devido a fatores imunodepressores, como, por exemplo, a ingestão de micotoxinas presentes em alimentos mal conservados ou a infecção pelo vírus da Diarréia Viral Bovina (BVD).
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