quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Gene Cullard: Parar ou incrementar?

A presença de musculatura dupla ou hipertrofia muscular é uma condição inerente aos bovinos. O nome musculatura dupla é uma designação errada, pois não existe duplicação de músculos e sim uma condição que envolve tanto hipertrofia como hiperplasia das fibras musculares. Além disso, a musculatura dupla é uma síndrome associada a factores físicos, fisiológicos e características histológicas que não apenas a hipertrofia muscular.
Algumas características dos animais com musculatura dupla incluem o adelgaçamento dos ossos do traseiro, alta frequência de animais com subdesenvolvimento da genitália externa e aumento da língua em bezerros recém-nascidos. Comparados com bovinos normais, aqueles com musculatura dupla tem um menor peso relativo dos ossos, menos gordura, mais músculos e um alto rendimento de carnes comercializáveis.
Infelizmente a síndrome é associada com problemas para a produção como a redução na fertilidade, distocia, baixa viabilidade do bezerro e aumento da susceptibilidade ao stress. Como existe um aumento na demanda do consumidor por carne magra, o interesse por bovinos de musculatura dupla tem aumentado. Esta síndrome tem sido observada na maioria das raças de bovinos, mas com maior frequência nas raças Belgian Blue, Charolês e Piemontês e é controlada por um gene recessivo, patenteado recentemente com o nome de miostatina. A identificação de animais com dupla musculatura é usualmente baseada na avaliação subjectiva (visual) da característica (grau de hipertrofia muscular), presença de sulcos intermusculares a outras características externas associadas com a síndrome, tal como a inclinação pélvica e o aparente alto ponto de inserção da cauda.
Bovinos de musculatura dupla mostram reduzida fertilidade em relação a bovinos normais. A redução na fertilidade tem sido atribuída a uma série de factores incluindo o pobre comportamento sexual, especialmente em animais jovens.
A dificuldade no parto de vacas de musculatura dupla é um “desbalanço morfológico feto maternal”, levando a uma grande incidência de distocia. Tal problema pode ser explicado pela combinação de dois factores: a dificuldade de nascimento de bezerros de musculatura dupla e a dificuldade de parto das vacas. Com o parto a hipertrofia dos músculos da coxa aumenta a largura do bezerro, especialmente na região dos trocanteres, produzindo muita dificuldade no parto.
A maioria dos estudos indicam que os bovinos de musculatura dupla tem um peso ao nascimento 30% superior do que os bovinos normais. A alta taxa de crescimento permanece até o período de pré-desmama. Entretanto, durante o período de pós-desmama alguns estudos indicaram que a taxa de crescimento de bezerros de musculatura dupla tornou-se inferior que o de bezerros normais, resultando em um menor peso maduro.
É importante ressaltar que a magnitude e direcção das diferenças no crescimento entre bovinos de musculatura dupla e normal estão sujeitos a factores gerais como maneio, habilidade materna da fêmea, sexo dos bezerros e regime nutricional, no qual controla a expressão do potencial de crescimento.
Várias observações indicam um apetite reduzido em bovinos de musculatura dupla, resultando em uma menor ingestão de nutrientes no período de pós-desmama. A hipótese da menor ingestão de alimentos é devido a redução no tamanho do trato digestivo. Assim, os bovinos de musculatura dupla expressam seu maior potencial de crescimento com rações ricas em concentrado e tendem a se adaptar menos facilmente a mudanças na ração e a condição de restrição alimentar.
Os bovinos de musculatura dupla são conhecidos por terem melhor conformação de carcaça que os normais.
A principal razão para a carne dos bovinos de musculatura dupla ser mais macia é esta ter um baixo conteúdo de colagénio (tecido conectivo). A palidez da carne também é uma característica própria dos animais de musculatura dupla. Tal característica possivelmente é devido a alta proporção de fibras brancas ligadas com o baixo conteúdo de mioglobina dos músculos. Em termos das limitações para produção, a superioridade das carcaças dos animais de musculatura dupla tem levado a um aumento na participação deste tipo de animal nos sistemas de produção, além disso, tem aumentado a infusão de genes de musculatura dupla em outros animais. Nas raças Piemontesa e Belgian Blue, a frequência de animais nestas raças que exibem musculatura dupla tem aumentado bastante, e no caso da primeira 57% dos animais são hipertrofiados muscularmente e 42% intermediários.
O acasalamento de machos de musculatura dupla com fêmeas normais, no qual toda a descendência vai para o abate (cruzamento terminal), com o benefício de que a descendência enviada para o abate poderá ser mais eficiente na utilização do alimento, e ter uma carcaça com alto rendimento e qualidade.
Em qualquer outro sistema de cruzamento para produção de carne, deve-se sempre ter o cuidado de descartar as fêmeas originárias do cruzamento com machos de musculatura dupla ou no mínimo descartar aquelas com características fenotípicas para a musculatura dupla.

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