quarta-feira, 22 de setembro de 2010

NEOSPOROSE

Neospora caninum é um protozoário reconhecido há cerca de uma década e que tem sido implicado como uma das principais causas de aborto em bovinos de várias partes do mundo.
A transmissão vertical (transplacentária) é a principal forma de disseminação de Neospora caninum em rebanhos bovinos, mantendo a infecção por várias gerações. Vacas soropositivas têm 95,2% de probabilidade de transmissão vertical de Neospora caninum. Por isso, em propriedades endémicas, as taxas de soropositivas geralmente são idênticas entre novilhas e vacas.
A infecção horizontal (pós-natal), pela ingestão de água ou alimentos contaminados com oocistos liberados pelos cães também pode ocorrer, sobretudo em casos de surtos de abortos. Vários pesquisadores constataram associação entre soroprevalência (e abortos) dos bovinos e presença de cães na propriedade, comprovando que o convívio cães/bovinos aumenta a prevalência de soropositivos para Neospora caninum em ambas as espécies. Da mesma forma, os cães de propriedades rurais apresentaram maior prevalência de infecção do que os de área urbana. Isto sugere que os cães de área rural podem adquirir a infecção pela ingestão de alimento contaminado de origem bovina, como fetos, membranas fetais e fluidos.
Os estudos epidemiológicos realizados até o momento indicam que a infecção pós-natal tem menor importância, ocorrendo em níveis inferiores aos verificados para a transplacentária.
Bovinos sorologicamente positivos têm maior risco de aborto. Esse aumento do risco pode ser de 7,4 vezes. Além disso, uma vaca soropositiva que aborta, tem 5,7 vezes mais risco de abortar na próxima prenhez.
Em vários estudos realizados na Escócia, Irlanda do Norte e Inglaterra foram constatados maiores soroprevalências entre rebanhos com histórico de aborto variando de 9% a 18%. Na Argentina foram constatados anticorpos anti-Neospora em 64,5% das vacas leiteiras com histórico de aborto.
O uso de cães para o manejo de bovinos de leite e de corte pode, pois, facilitar a contaminação de pastagens e aguadas aumentando a probabilidade de infecção do rebanho.
Nos animais bovinos adultos, o aborto é o único sinal clínico. Ocorre em vacas e novilhas do 3o ao 9o mês de gestação (maioria entre 5 e 6 meses).
O feto pode morrer no útero, ser reabsorvido, mumificado, autolisado, natimorto, nascer vivo mas doente, ou ainda, nascer clinicamente normal, mas cronicamente infectado. Normalmente não ocorre retenção de placenta. São raros os casos de vitelos que nascem infectados e apresentam a forma clínica, com lesões neurológicas, desde leves disfunções até completa paralisia. Os membros anteriores e/ou posteriores podem estar flexionados ou hiperestendidos. Pode ocorrer exoftalmia ou aparência assimétrica dos olhos.
A maioria dos vitelos infectada intra-uterinamente nasce clinicamente normal. Tem, ao nascer, altos títulos de anticorpos anti-Neospora caninum. 80 a 90% dos filhos das vacas soropositivas são congenitamente infectados. Esses animais clinicamente normais e congenitamente infectados são importantes para a manutenção da doença no rebanho.
A frequência de abortos por Neospora caninum pode ser esporádica, constante durante os meses (endémica) ou em surtos (epidémica). Os abortos endémicos geralmente ocorrem em rebanhos cronicamente infectados, entre as vacas soropositivas. São pouco superiores a 5% do rebanho ao ano. Nos surtos, mais de 30% dos animais podem abortar em poucos meses, e ocorre em animais que entram em contato com uma fonte externa de contaminação. Após um surto, os animais ficam cronicamente infectados, passando a ocorrer o chamado aborto endémico. Dessa forma muitas vacas soropositivas podem transmitir o agente para sua progénie, perpetuando a infecção dentro do rebanho.
Existem situações em que é difícil determinar se a alta frequência de abortos é resultado de uma infecção externa recente (surto) ou da reativação de infecções crónicas, latentes, de vacas já infectadas. Essa reativação pode ocorrer devido a fatores imunodepressores, como, por exemplo, a ingestão de micotoxinas presentes em alimentos mal conservados ou a infecção pelo vírus da Diarréia Viral Bovina (BVD).

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